quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Manipulação e compreensão: o caso USP

Já há uns dias que venho pensando sobre o assunto das reivindicações dos alunos da Universidade de São Paulo (USP) contra o reitor João Grandino Rodas e agora que consegui clarear minhas ideias e escrever este texto, estou o compartilhando pela internet. Abaixo seguem algumas das minhas opiniões sobre o assunto.


"Compreender o fanático que é incapaz de nos compreender é compreender as raízes,as formas e as manifestações do fanatismo humano. É compreender por que e como se odeia ou se despreza. A ética da compreensão pede que se compreenda a incompreensão."
Edgar Morin.


Ponto de vista é o termo que, segundo um acordo social, significa o jeito que se observa algum objeto: seja ele um objeto material ou imaterial. Seja uma situação, uma teoria ou uma mesa. Ponto de vista é a localização espaço-temporal de um sujeito perante seu objeto. Mas como nós "criamos" esse nosso jeito de olhar as coisas? Quando foi que alguém nos ensinou a pensar nessas coisas? Teoricamente este é o papel da escola e dos professores, se não fosse a alienação e o movimento político que nossa sociedade "deixa" que outros tomem decisões por nós. Não existe autonomia, liberdade e muito menos espaços para discutirmos e refletirmos sobre a vida, a nossa vida.

Essa situação nos leva ao argumento de que a decodificação do mundo é o verdadeiro exercício da cidadania - ação essa que todos nós deveríamos ser capazes de executar com clareza, de forma a não deixarmos que o "outro" nos diga o que devemos pensar ou como devemos agir.

Kamau, rapper brasileiro, disse em sua música "Poesia de Concreto" que o homem "perdeu toda noção acostumado a viver com dono". E me pergunto, que dono é esse? Que faz decisões em meu lugar? Que me dá diversas opções para que eu escolha uma dentre estas e não me dá o direito de criar uma opção? O dono, a que ele se refere, é o dono do nosso ponto de vista. Um grande "outro" invisível, como Lacan diria? Ou um grande sistema de informações gangrenado? E para essas questões, o pessoal do Planet Hemp afirmava "aprenda a dizer não, pensa um pouco meu irmão, você tem medo de quem?".

O que tudo isso tem de ligação? Você pode estar se perguntando. Então reflita sobre essa próxima pergunta: a qual instrumento de coerção social estou me referindo neste texto? De que maneiras pode-se controlar uma sociedade inteira? Em nossos tempos de informação, aquele que possuir tal instrumento é quem possui grande poder. A resposta salta da boca daqueles que entendem do jogo da comunicação. Os meios de comunicação de massa são estes instrumentos. São eles que formam e deformam milhares de brasileiros diariamente com informações em prol de um único ponto de vista. Manuel Castells afirmou em A galáxia da internet, no começo dos anos 2000, que em uma sociedade da informação, a economia também é da informação. E economia é o que faz o mundo girar, é o que faz os grandes veículos de comunicação ganharem dinheiro. Muito dinheiro, aliás. Eles vendem informação. Então, nesse processo, a grande questão é descobrir quem se beneficia com as opiniões que os meios de comunicação de massa propagam.

E uma breve conclusão que podemos chegar é que o que falta por na questão das reivindicações dos alunos da Universidade de São Paulo, é empatia. Falta que nós nos coloquemos no lugar do outro (neste caso dos outros, dos estudantes). E ainda assim, a maior preocupação de todo mundo, ao que parece, é que há uma tentativa de revolução que ninguém sabe ao certo o motivo. Mas peraí, ninguém mesmo? Ou será que ninguém consegue ouvir o que os estudantes pedem por conta dos grandes veículos de informação que saturam seus interlocutores, ou melhor, receptores, com mensagens contra-movimento estudantil, o que acarreta na aceitação deste ponto de vista manipulado ao invés de cada um ir atrás das informações por si só e tentar construir suas próprias maneiras de enxergar este objeto, esta questão.

Parece-me, ainda, que a principal preocupação de todos é com o fato da Polícia Militar ter utilizados 400 soldados para a operação de desocupação da reitoria e que os alunos sejam presos e punidos. Mas falta uma coisa importante nesse momento em que muitos apontam o dedo na cara dos estudantes "vagabundos": falta compreensão, que aliás só existirá no momento em que existir empatia. Falta diálogo, falta ouvir quem tenta falar e que não é ouvido por causa do megafone da mídia, que grita o que temos que fazer. Grita ordens, fala o que nós devemos achar, pensar.

Compreensão, em sua origem etimológica significa algo como juntar, abraçar, integrar. Na força e no papel que o diálogo necessita desempenhar nesta questão da USP, o que se precisa ter além da compreensão do outro, é o entendimento do problema. Das reivindicações dos alunos, dos motivos pelos quais eles estão tendo que gritar. Como Edgar Morin diz (e como está no começo deste texto): "A ética da compreensão pede que se compreenda a incompreensão". É esse o exercício necessário neste momento, compreender o incompreendido, dar voz e ouvi-lo.

Nosso ponto de vista, o senso comum, a esfera pública de discussões é pautada pela compreensão do mundo, pela compreensão do outro e pela compreensão que o outro tem de mim. E são todas coisas complexas, tecidas juntas, que tecem e entretecem. E me entristece o fato de que aqueles que reclamavam que os jovens não lutam por seus ideais, que são passivos, são os mesmos que julgam os movimentos estudantis como "um bando de riquinhos sem ideais", ou qualquer coisa que o valha. Estes que apontam e falam, não estão refletindo sobre a situação, estão desinformados, estão sendo manipulados no nível da superestrutura, no campo das ideias. Dos conceitos. Pois os alunos da USP estão lutando contra a corrupção. Coisa que todos deveriam estar fazendo.


Outros fontes de informação:
Nota pública de pesquisadores da Universidade de São Paulo sobre a crise da USP

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sites de busca e Pierre Lévy

No site da M&M (Meio e Mensagem), hoje, tem uma matéria falando sobre os "Sites - De onde vêm os visitantes?". O autor é Pedro Silva. Ele comenta sobre como as pessoas navegam na internet e como chegamos nos sites de notícias. Dentro de suas próprias pesquisas, ele ressaltou que: "a grande maioria das pessoas usa os buscadores para encontrar a URL dos sites preferidos".

Ora, Pierre Lévy em seu livro "O que é o virtual" (1996) já nos indicava que o uso da computação, ou da informática, ou das tecnologias da inteligência (Lévy - As tecnologias da inteligência 1993) - o termo que preferir, é uma virtualização de nossos atos e, uma das primeiras características mais humanas e que nós depositamos nos computadores é a memória. Ora, voltando ao argumento de Pedro Silva, não há motivo para espanto com tal afirmação ("a grande maioria das pessoas usa os buscadores para encontrar a URL dos sites preferidos"), uma vez que não precisamos mais decorar os sites. Não precisamos decorar muitas coisas, precisamos saber interpretar e saber procurar.

Não há motivo para se espantar, então, com essa nossa "falta de vontade" de lembrar das coisas. Existem computadores aí para fazerem exatamente essa função específica do nosso cérebro. Algo que na verdade não é tão novo, por exemplo: a própria agenda para anotarmos telefones. Pois, servia para extender nossa memória e guardar quantos números quiséssemos. A única diferença é a maneira que acessamos essa memória. Talvez isso seja a grande inovação.


Matéria na íntegra: